Acordou cedo naquele dia. Mas estava com preguiça de sair da
cama.
Experimentou levantar-se para ir tomar seu desjejum. Mas
primeiramente, um banho, quente, demorado, costumava gastar uma hora inteira
nestes preparativos. Banho, barbear-se, sem pressa e muita preguiça.
Agora sim, o café da manhã. Um lauto banquete. Frutas,
cremes, pães, leite , café, sucos, queijos, torradas, biscoitos diversos,
iogurtes. Tudo que o dinheiro podia comprar estava ali a seu alcance.
Ao sentir-se satisfeito, chamou a serviçal e mandou retirar a
mesa. Foi para a piscina, nadou e deleitou-se com os primeiros raios de sol.
Pôs-se a pensar, e por algum tempo refletiu sobre a empregada
que servira e retirara o bleck-fest. Estava sempre sorrindo, sempre feliz.
Não podia entender como alguém podia ser feliz. Ele almejava
um sentimento semelhante com todas as suas forças. Um dia ele iria segui-la
para saber como ela vivia.
Saiu da área de lazer, arrumou-se e mandou trazer seu
conversível. Saiu com destino a praça onde há muitos anos passava suas manhãs.
Ao chegar na praça foi para seu lugar favorito. Sentou-se e
se pôs a esperar. Ali naquela praça ele pedia esmola a nem se lembrava quanto
tempo. Neste lugar onde estava já tivera varias oportunidades boas. Ganhou
varias vezes esmolas de muito valor.
Ficou olhando seus companheiros de infortúnio.
Dois bancos a direita estava sentado o velho Lorde dono de
imensas minas de minérios e de pedras preciosas. Tinha muitos filhos espalhados
por diversos países com diversas mulheres. Só não os via. Nem telefonavam para
ele.
Um pouco mais ao longe, o Barão do Gado Leiteiro, hoje ele
estava com uma cara de dar dó. Alguma coisa de ruim devia ter acontecido
durante a noite. Talvez fosse lá dar uma palavrinha com ele antes de se
retirar. Mas com o Barão tinha de ter muito cuidado com o que falar, estava
sempre desconfiado. Não gostava de ninguém. Tinha muitas vezes sido roubado por
administradores desonestos. A esposa o havia traído, pasmem, com um dos
vaqueiros de uma das fazendas. Ela
afirmava que preferia ter de trabalhar na lavoura, ou até mesmo fazendo
limpeza na casa dos outros, mas que precisava de um sorriso de vez em quando.
E quem não precisava disto? Não era este o objetivo da vida?
Todos estávamos aqui por este motivo.
Também estava ali o Es Presidente da Republica.
Muitos cantores famosos.
Atores de renome. Olhem ali, aquele ator do seriado.
Conhecia-os e era conhecido por eles.
Quem sou eu? Ninguém. Um homem dono de redes de Hiper
Mercados. Dono de fazendas de diversas culturas. Fazendas de gado leiteiro e de
corte. Mas nem vou muito até as fazendas. Nem aos grandes mercados costumo
frequentar. Meus administradores fazem tudo por mim.
Eu gosto mesmo é de ir a praia, as montanhas, esportes
radicais. Só não vou.
Saúde? Não é esse o problema.
Quando as pessoas me vêem correm para pedir favores. Querem
ser vistas comigo.
É por que sou amado? Não. Sou cercado de parasitas esperando
o que sugar de mim. Meu dinheiro. Minhas posses. Meus bens. Caças dotes se esforçam
para me fisgar. E eu fujo de todos estes.
Eu venho para esta praça. Aqui todos esperam a mesma coisa.
Uma esmola.
Ontem quase meus amigos de infortúnio me atacaram. Eles
ficaram com inveja por que ganhei uma esmola de grande valor.
Vou contar para vocês.
Cheguei como de costume.
Sou um dos que mais demoram a chegar aqui.
Até já tive de brigar por causa de encontrar outro em meu
lugar favorito.
Fiquei tranquilamente observando os "ricos" brincando na praça.
Vi uma família de um operário que se reuniu ali para que as
crianças corressem pela grama. Ele, para esfregar em nossa cara que era feliz,
trouxe triciclo para o filhinho andar. Trouxe uma cesta de piquenique.
Sentou-se com a esposa e a filha pequena na grama, e ficavam rindo escandalosamente.
Parecia ate que debochavam dos mendigos que se encontravam ali a mendigar.
Vi o barão, uns atores e músicos, e alguns outros de tocaia.
Ficavam de olhos bem abertos na direção da alegre família.
Observei também que o Lorde estava com uma atitude desesperadora.
Fiquei ate com receio de que ele fizesse alguma besteira. Mas tudo continuou
como estava.
A família se divertindo e os mendigos de mãos estendidas em
direção aos transeuntes.
Quando já fazia umas duas horas que esta festa começara. A
filhinha do casal que estava brincando foi até o canteiro e recolheu uma flor.
Os pais não ligaram.
Mas ai aconteceu.
Ela veio em minha direção e sem que ninguém da família a
impedisse. Sorriu para mim e me deu a flor.
E para completar, ela jogou um beijo com a mão. Pasmem, um
beijo jogado por uma criança. Eu não podia acreditar numa coisa dessas. Eu
estava ali na praça a tantos anos e foi a primeira vez que ganhei uma esmola de
tamanho valor. Sorri encabulado. Estava delirante. Era algo que desde minha
mais tenra infância sempre havia sonhado que um dia eu conseguiria ganhar. Um
gesto de carinho espontâneo, sincero, honesto, puro.
O pai da menina se aproximou e com educação a retirou
dali. Ele acenou para mim com a cabeça
e voltou para seu lugar com a criança.
Naquele momento me senti o homem mais rico do mundo...
Barcarena-Pa, 05/07/2013.
Pr.Ernesto Luis de Brito
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