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segunda-feira, 17 de junho de 2013

CONTOS "HISTÓRIAS DA JABOTA CARLOTA"!

OBS.: Quem puder me ajudar com ilustrações (desenhos) será bem vindo.





As Historia da JABOTA CARLOTA.




Autor: Ernesto Luis de Brito.


A JABOTA CARLOTA.
Carlota era um jaboti que já beirava seus 250 anos.
Já tinha cessado o costume das jabotis. Já era raro botar ovos. Não tinha nenhum companheiro fixo, todos os que teve já tinham falecido. Mas ela não esquentava com nada.
Carlota tinha todo o tempo do mundo ao seu dispor.
Entrava ano e saia ano e ela nem se preocupava com nada, só tinha três coisas a fazer. Comer passear e dormir.
Seu robi era viajar. Atravessava as mata de um lado para o outro.
Carlota tinha muitas historias vividas para contar. Uma certa vez, conta ela, estava bebendo água e sem que ela se apercebesse apareveu um jacaré. Ela correu com toda sua velocidade para sair da beira da água. Ele a fitava e ria de seu desespero. Nem teve pressa de ir banquetear-se com a apetitosa jaboti. O jacaré sabia que ela não iria fugir. Deixou-a ate chegar a sair da água, e quando Carlota ate pensou que iria fugir, NHAC, o jacaré abocanhou-a e a puxou de volta para dentro d'água.    
Carlota sabia que tinha chegado seu fim. O jacaré era a fera mais temida do rio.
Carlota estava com a cabeça e as pernas encolhidas como era seu costume em momentos de dificuldade. Só viu pelos cantos dos olhos quando o jacaré abriu de novo sua boca enorme. Pensou:
¾              Bem, não tenho nada de reclamar, já botei milhares de ovinhos, devo ter milhares de descendentes. Vivi muito. Agora é só me despedir deste mundo.
E deu assim adeus a vida. Só queria que o jacaré fosse piedoso e não demorasse muito. Uma mordida bem dada e nem sentiria a dor, seria num instantinho.
E a mordida veio. A bocarra do jacaré se fechou com toda força. Carlota ate ouviu o CRASHK. Carlota pensou, quebrou meu casco, agora adeus. Mas a dor esperada não veio. Ouviu o jacaré começar a gritar:
¾              Ai, ai, ai, ui. Uiuiui que dor, aaaaaaaaaaaaa, quebrou tudo, ai meus dentinhos. Aiaiaiaa.
Carlota ousou botar a cabecinha de fora para ver e entender o que estava acontecendo, e viu, o jacaré gritava de dor. Seus dentes estavam todos quebrados. Carlota pos as perninhas de fora e tratou de fugir. Aquele jacaré não aprendeu com a mamãe dele a escovar seus dentes e por isso não tiveram força para morder e quebrar o casco  da Carlota. E ela não ia ficar esperando por um outro mais forte, não. Tratouy de se mandar e ia debochando do jacaré.
¾               E vê se aprende. Fique longe de mim. Da próxima vez, não terei tanta bondade, acabo com você. Seu folgado. Hum.
E se mandou rapidinho.
Pois é, na natureza todos tem seu sistema de ataque se for predador, ou de defesa se for a caça. No caso do jacaré, eram seus poderosos dentes em que ele confiava cegamente, e no caso da jaboti, um casco muito forte, engrossado por muitos anos de vida. Os dentes do jacaré não foram fortes o suficiente para matar a jaboti, mas Carlota não se deixava enganar, vivia vigiando tudo ao seu redor para nunca ser pega de surpresa.
Um outro dia, ia Carlota pela trilha e quando viu...

  
      

MÃE É QUEM CRIA.
Um galho grande, de uma árvore muito grande, havia caído. Isto era normal no meio da mata. Mas o que não era de se esperar foi Carlota ver caído perto do galho um ninho.
Carlota por ser curiosa como todos os jabotis foi indo de mansinho e olhou dentro do ninho.
Qual não foi sua surpresa ao encontrar um ovinho lá dentro. Devia ter havido mais ovos mas ela não os encontrou, só sobrara um único ovinho naquela ninhada.
Problemas, o que fazer agora?
Carlota que era uma jaboti muito sentimental e carinhosa ficou desesperada por não saber o que fazer numa situação tão inusitada.
Porem por ser muito inteligente, e ter muita experiência de vida, encontrou uma solução.
Carlota com muita dificuldade conseguiu encaixar aquele ovinho tão melindroso dentro de sua casca, entre o pescoço e o corpo, conseguiu deixá-lo num lugar que não iria lhe atrapalhar andar e ao mesmo tempo manteria o ovinho quentinho.
Ela sabia onde havia um ninho de pássaros, desses pássaros que fazem seus ninhos no chão, entre os arbustos, e neste ninho determinado, tinha uma ninhada.
Carlota teve dificuldades para chegar ate o ninho. Ela andava de vagar. Tinha muitos obstáculos no caminho. Tinha de ter cuidado com o ovinho de ... de que seria mesmo esse ovo? Só agora ela se punha a pensar sobre isso. Qual seria a espécie de pássaro que tinha botado esse ovo tão pequenino? Um dia ela saberia.
Demorou, mas chegou.
Quando avistou o ninho pretendido uma mamãe estava sobre o ninho. E agora? O que fazer?
Carlota pensou muito e após algumas ponderações mais prolongadas ela se decidiu a conversar com a mamãe pássaro e ver se esta poderia ajudá-la.
Se aproximou cuidadosamente para não espantar a mamãe. E mesmo de longe chamou. A mamãe não ouviu e Carlota se aproximou ainda mais e chamou de novo.
¾              Ei. Bom dia.
¾              Bom dia sim.
Respondeu a mamãe pássaro.
¾              O que a trás ate este lugar tão ermo?
¾              É que eu estou com um probleminha e talvez a senhora possa me ajudar.
¾              Se estiver ao meu alcance.
¾              Esta sim, pode acreditar.    
Carlota contou a historia do ovinho órfão e terminou fazendo um pedido.
¾              Eu acredito que a senhora por ser mãe vai entender meu desespero. Eu queria que a senhora permitisse deixar o ovinho dentro do seu ninho ate ele chocar. E mais. Como a senhora já tem de aquecer os seus próprios ovos,  não terá de mudar em nada seu ritmo de vida.
¾              É, até pode dar certo. E quando ele nascer. Eu até poderei ensinar ele a voar. Coisa que para a senhora seria um pouco difícil. E a alimentação também seria a mesma dos meus filhotinhos. De que tipo de pássaro será ele?
¾              Também já me fiz esta pergunta. Mas sem solução. Veja o ovinho.
¾              Ó, é tão pequenino. Vai ser nosso mascote rsrsrsr. Cuidarei dele sim, pode pô-lo aqui dentro.
¾              Obrigada, nunca me esquecerei deste favor.
¾              Não é nada, não terei de fazer nada que já não esteja fazendo agora.
Carlota ficou toda feliz. Depositou o pequeno ovo no ninho da mãe de aluguel, ou melhor no ninho de aluguel, rsrsrsr, e prometeu:
¾              Eu sempre que estiver por perto passarei aqui para visitá-la e ter noticias do ovinho, até sabermos de que ave ele é. Até breve amiga. Qual é mesmo o seu nome? O meu é Jabota Carlota.
¾              Que distraídas nós somos nem tínhamos nos apresentado, rsrsrsrrs, meu nome é Karminha. Fiquei feliz em te conhecer. Volte sempre para conversarmos.
¾              Com certeza. Voltarei.
E Carlota se foi feliz da vida.
Sempre que possível agora Carlota vinha até o ninho para conversar com a nova amiga e ter noticia do ovo.
Certo dia quando Carlota veio visitar a amiga Karminha teve uma surpresa.
Karminha estava toda eufórica.
¾              O que esta havendo? Que alegria toda é esta?
¾              Estou tão entusiasmada. Eles estão bicando.
¾              Que? Quem esta te bicando? Doeu?
¾              Não é isto. Os filhotinhos estão bicando a casca dos ovos. Eles estão para nascer.
¾              Ó. Que bom.
As amigas ficaram na expectativa. Dentro de instantes o primeiro biquinho apareceu. E logo em seguida uma cabecinha seguiu o biquinho. Karminha ajudou retirando os restos de casca mas com cuidado pois sabia que o pássaro para ter seu ciclo completo tinha de sair sozinho da casca. e ela esperou ajudando mas muito pouco.
Os outros pássaros também foram botando os biquinhos para fora e quebrando as cascas dos ovos. Mas o nosso ovinho ainda nada.
De repente, ele, o tão esperado ovinho também se mexeu. Um biquinho apareceu e uma avezinha foi surgindo. Era igual as outras. Toda peladinha. Mas um pouco menor.
Carlota estava emocionada, nem conseguia falar nada. Foi karminha que quebrou o silencio.
¾              Eis ai. Nasceu seu afilhado. Ainda não sabemos se é menino ou menina. E nem que espécie é, mas uma coisa eu sei. Será muito amado por nós duas.
¾              Sim. Com certeza. Nem tenho palavras. É uma experiência incrível. Eu nunca vi o nascer de nenhum de meus filhotes. Nós botamos nossos ovos cobrimos de areia e vamos embora. Se um dia nos encontramos com outro jaboti, nem sequer sabemos se é um descendente nosso. Um filhinho.
¾              Que coisa dolorosa. Não conhecer os próprios filhotes.
¾              Mas sei que tenho milhares de filhos, netos e bisnetos. Coloco muitos ovos e tenho uma longa jornada já percorrida.
¾              Sério? Nem parece. Quantos anos?
¾              Um quarto de milênio, mais ou menos.
¾              Incrível.         
¾              Todos dizem a mesma coisa. Ate eu não conheço outro jaboti desta idade, acho que sou a mais velha jaboti viva.
Ficaram ali conversando. Karminha saiu um pouco para buscar comida para os bebes e Carlota ficou vigiando o ninho. Quando Karminha voltou Carlota se despediu e prometeu voltar em breve. Se despediu dos filhotinhos e se foi.
Alguns dias depois voltou e a nova surpresa. As avezinhas já estavam todas com penas.
¾              Que lindas.
¾              São mesmo. Lindas e fortes. Olhe a caçula. Também é bem bonita e forte. Mas ainda não consegui distinguir a espécie.
¾              Não tem problemas, será amada da mesma maneira.
¾              Sabia que em poucos dias elas começarão a treinar o vôo. Disse entusiasmada Karminha.
¾              Não acredito. Tentarei estar aqui para ver o primeiro vôo deles.
Carlota ficou de guarda de novo e Karminha foi buscar mais alimentos. Quando voltou Carlota se demorou mais algum tempo e depois despediu-se.
¾              Até breve voltarei assim que der.
¾              Até.
Carlota se foi, pois tinha alguns probleminhas para resolver.
Mas demorou muitos dias a voltar. Estava longe das vizinhanças.
Ao se aproximar do território de Karminha encontrou muitos animais que estavam reunidos ali. Estranhou, mas seguiu até o lugar onde estava o ninho de Karminha e perguntou:
¾              Que esta havendo?
¾              Demorou tanto, mas veio.
¾              É tive problemas para resolver.
¾              Veja quem esta naquele galho ali em cima.
¾              Quem é aquele?
¾              É nosso mascotinho. É ele sim. Agora  já sabemos qual é sua espécie.
¾              Sério? Qual é?
Antes que Karminha pudesse responder, o pequeno pássaro abriu o bico e soltou um lindíssimo canto que fez com que todos os animais se calassem.
Extasiados todos olhavam para cima. Para aquele galho em especial. Todos de boca e bico abertos.
¾              Ele é um Uirapuru. Nós salvamos um lindo espécime de Uirapuru, minha amiga.
¾              Só Deus mesmo para ter posto na minha estrada aquele ovinho órfão. Fico tão feliz por ter podido participar deste final feliz. Me sinto a própria mãe dele. Ou melhor. Nós duas somos.
¾              Sim.
E as duas mães ficaram olhando aquele coral de uma só voz atravessando as matas e a todos calando.
Feliz. Sim, Carlota estava se sentindo a jaboti mais feliz da mata.
E seguiu sua jornada mas agora não podia mais dizer que voltaria logo. Sabia que o ninho não estaria mais ali.
A vida na mata era assim ...
Seguiu ouvindo o canto do Uirapuru...  
    
        
        



  




UMA ESTRANHA PARCERIA!

A vida de um jaboti as vezes pode ser monótona.
Carlota não era exceção.
Raras vezes se encontrava com outros jabotis.
Mas na época de acasalamento ela sempre encontrava um namoradinho.
Nem se preocupava se já estava meio enferrujadinha. Se achava uma mocinha neste período.
Mas uma certa vez, numa parte da trilha que costumava percorrer, ao parar nas margens de um igarapé já conhecido e não muito largo. Encontrou-se numa situação interessante.
Havia ali um escorpião parado a olhar para o outro lado e andava de um lado para o outro.
Esta atitude chamou a atenção de Carlota. Que como todos os jabotis são curiosos de doer. Perguntou:
¾               Bom dia senhor escorpião. Como esta passando? Perguntou mas de uma distancia segura, afinal não se pode confiar em escorpiões. 
¾               Bom dia dona tartaruga. Disse o escorpião mas com certo desprezo na voz. Os escorpiões se consideravam os supremos.
¾               Não sou uma tartaruga. Deixe de ser ignorante seu baixinho atrevido.
¾               A sim. Desculpe-me. Não foi a intenção.
¾               Estou vendo sua aflição. O que esta havendo?
¾              É que minha família mora do outro lado da lagoa. E por descuido, durante a ventania de ontem, não notei  que o galho onde estava cochilando era muito velho e fraco. Ele quebrou e me arrastou com ele para esta margem da lagoa.
¾               Isto não é uma lagoa. É um igarapé. Não notou que a água é corrente?
¾               Para mim é a mesma coisa de ser um oceano. Da no mesmo. Não sei nadar. Não sei se é fundo ou se da para passar a pé.
¾              É razo. Até eu que sou péssima nadadora costumo atravessá-lo. Só faço por necessidade.
¾              Quer dizer que a senhora já atravessou este rio?
¾               Já. Varias vezes.  Mas não gosto.
¾              Será que a senhora não poderia me fazer um favor?
¾              Qual seria este favor? Perguntou Carlota mas bem desconfiada.
¾              A senhora podia me levar para a outra margem nas suas costas. Eu seria eternamente grato e diria para toda minha família sempre se manter distante da senhora e ate de seus amigos. Que tal?
¾              Nem pensar. Você acha que não fiquei sabendo do que aconteceu com o compadre sapo.
¾              Mas não foi ninguém de minha família que fez aquela traição. Em mim a senhora pode confiar.
¾               Quem me garante?
¾              Eu sei que meu primo morreu junto com o sapo e eu não quero morrer.
¾              Você não disse que não tinha sido ninguém de sua família? Já esta mentindo. Rsrsrsrs. Escorpião, sempre escorpião. Rsrsrsrrs.
¾               É que me esqueci que aquele malvado era meu primo. Mas comigo vai ser diferente. Me de uma chance.
Nisto alguns animais da mata que estavam ouvindo o dialogo logo advertiram a jaboti Carlota, pois esta era muito estimada por todos os animais dali, afinal ela era sempre muito disposta a ajudar a todos.

¾               Não confie nele não, dona Carlota. Ele é traiçoeiro. Disse um tucano que estava por perto.
¾              É verdade gritou o Mico Leão Dourado que também se interessou pelo papo. Este escorpião tentou me ferroar. Mas pegou só de raspão. Mesmo assim doeu de matar. Rum, vou jogar um cupuaçu na cabeça dele.
¾               Não faça isto. Foi sem querer. É que me assustei quando você pulou perto de mim. Disse o malandro escorpião.
¾               Que nada eu estava bebendo água e você veio de mansinho. Nem sei como estou vivo ainda. Rum.
¾              Me perdoe. Não acontecerá de novo. Este é mais um motivo para vocês incentivarem a tartaruga a me levar para casa. Lá não prejudicarei nenhum de vocês.
¾              Ele tem razão, disse uma lebre do mato que estava por ali. Leve este traste embora.
¾              Mas quem garante minha vida. Disse bem esperta dona Carlota.é meu pescoço que esta em risco.
¾               Uma sabia coruja que fora acordada pela conversa, deu sua opinião.
¾               A senhora tem casco duro. Se mantiver a cabeça encolhida. Ele não poderá fazer nada contra a senhora. Não é como aconteceu com o compadre sapo. Ele tinha pele fina.
¾              Isto mesmo. Disse o escorpião. Ta vendo, não acontecerá nada. Vamos.
¾              Ta bom. Espere eu entrar na água e pule em minhas costas.
¾              Oba.
O escorpião subiu em um galho e ficou esperando. Quando Carlota estava dentro d'água e embaixo dele, ele saltou e se sentou confortavelmente.
Os outros animais ficaram tensos e em silencio. Foi o mico que quebrou o silencio. Gritou:
¾               Cuidado e atenção dona jabota. Torço pela senhora, que se vá tudo bem.
¾              Obrigado. Disse mas sem tirar a cabeça para fora. Afinal,  de burra ela não tinha nada.    
¾               A senhora vai ver que não vai acontecer nada. Disse o escorpião.
¾              Espero. Assim quando você precisar de ajuda, é só pedir.
¾              Obrigado.
¾              Cuidado para não mergulhar senão a água me leva. Sua descuidada.
¾              Se eu mergulhar morro afogada.
¾              E os passageiros também, né?
¾              Ta bom.
Assim a jornada seguiu sem nenhum inconveniente. Dona Carlota chegou na outra margem e o escorpião saltou. Dona Carlota se afastou rapidinho. O escorpião feliz começou a chamar pela família. Quando os outros escorpiões se aproximaram, Carlota ficou com muito receio de uma traição, mas o escorpião disse em voz bem alta.
¾              Esta aqui é minha nova amiga. A Jabota Carlota. A partir de hoje ela é nossa protegida. E se tiver algum animal junto com ela deverá ser respeitado também. Ela me trouxe de volta da outra margem do igarapé.
Todos os escorpiões estranharam mas prometeram que seguiriam as ordens do escorpião amigo de Carlota. Ela entendeu então que ele era um chefe ali na colônia. 
¾              Olha. Me surpreendeu seu escorpião.
¾              Vou te confessar uma coisa dona Carlota. Primeiro deixe-me me apresentar. Sou Escorpi II. E minha palavra é respeitada aqui na colônia. Mas eu fui muito tentado a atacá-la na travessia, mas eu venci meu instinto, e isto foi muito bom para mim.
¾              Bem, já que é assim. Vou indo. Tenho uma longa jornada pela frente. Ate breve.
¾              Pode confiar no que falei. Mas saiba, vida de escorpião é curta. E eu só posso garantir minha palavra enquanto estiver na liderança. Por isto, sempre atenta.
¾              Obrigada pela sinceridade. Finalmente encontrei um escorpião em que pude confiar. Até um outro dia.
¾              Até mais.
Se despediram e Carlota se foi. Meditou muito no caminho.
¾               Uma coisa eu aprendi. Não se pode julgar ninguém pela aparência, raça, tamanho, cor, religião, nem posição social, todas estas coisas são “capas de livro”, temos de ler o interior do livro para conhecer seu conteúdo.  
Carlota estava feliz. Tinha aprendido uma lição e ganho mais um amigo.         




A SURPRESA!

Nossa amiga Jabota Carlota era normalmente de gênio fácil, dócil e dificilmente se irritava com algo. Mas como todo mundo tinha seu “Calcanhar de Aquiles” ou seja, seu ponto fraco.
O de Carlota era, não deixava ninguém saber, a solidão.
Costumava transmitir a todo mundo que sua vida “solo” era a melhor coisa do mundo. Ela era o que chamamos de uma “euquipe”, uma equipe do eu sozinho.
Mas todos nós sabemos que a vida solitária traz muita tristeza, alem de perigos. Por exemplo, quando se é um solitário e se machuca, quem vai cuidar de você? Quando você cai num buraco quem vai te socorrer? Quando esta frio, quem vai te aquecer? E estas são só algumas considerações que se passava na cabeça de nossa amiga Carlota. E a cada ano que se passava o medo pelo amanhã aumentava.
Mas Carlota não se deixava abater. Seguia seu caminho sem cansaço. Ela era afinal, uma guerreira como poucas que se conhecia.
Mas certo dia uma surpresa lhe aguardava.
Numa curva da trilha ela ouviu alguém chorando.
Como todos nós sabemos Carlota morria de curiosidade, era algo muito forte nela e ela não media os riscos nessa hora. E olhe que Carlota era muito precavida. Mas um choro... era demais para ela aguentar. Foi atrás do choro pára matar a curiosidade. Afinal, poderia estar salvando alguém, né? Era sempre assim que ela se justificava.
Carlota se aproximou bem de vagarinho. Pé ante pé. E olhou atrás do arbusto que ocultava a visão sobre quem estava chorando.
Ela olhou não viu ninguém mas chamou:
¾              Quem esta ai? Posso ajudar?
¾              Não. Vá embora.
E o choro continuou.
Carlota não se conteve. Entrou atrás do arbusto e viu quem estava ali chorando de tristeza. Quase caiu de costas de surpresa do que seus olhos estavam vendo.
¾               O que esta acontecendo?
Perguntou mas muito impressionada com a visão que estava tendo. Mas como era muito culta e discreta se conteve.
¾              Vá embora. Não queremos ninguém zombando da gente. Você ...
¾              Zombando? Por que? Não estou entendendo você.
¾              Você não. Vocês. Não esta vendo que somos dois. Só moramos na mesma casa, oras.
¾              Eu, é, bem, claro que sei. Eu só me expressei errado. Mas, me contem o que esta havendo? O porquê deste choro triste?
¾              Eu e meu irmãozinho aqui... ahn... estávamos indo tomar banho na lagoa, quando já estávamos bem perto da margem, apareceu um cágado muito feio e começou a zombar da gente.
¾              Não acredito. Que monstro foi este que fez esta barbárie? Quando eu encontrar este cágado vou dizer-lhe poucas e boas.
¾              Ele nos chamou de aberração. Você acha que somos uma aberração? Só por que moramos na mesma casa.
¾              Não, claro que não. É apenas ignorância e preconceito deste cágado. Na verdade ele estava com inveja de vocês, afinal vocês tem sempre um amigo por perto e nunca estão sozinhos. Vocês tem a sorte de nunca conhecer a solidão.
¾              É mesmo nós conversamos muito, sabia? Somos muito curiosos e temos muitas vezes opiniões diferentes sobre alguns assuntos e isto nos rende muita conversa. E alem disto sempre que temos uma divergência procuramos alguém mais velho e sábio para nos dar sua opinião. A senhora por exemplo, já deve ter mais de vinte anos, não tem? Então deve ter muita experiência sobre muitos assuntos.
¾              É mesmo, ela já deve ter visto muitas coisas na vida.
Pela primeira vez falou a cabeça da esquerda que tinha se mantido em silencio ate o momento. Ela era mais reservada e pensava mais. Isto era bom porque evitava discussões insolúveis. Se ela ouvia, quando queria falar, era porque tinha certeza.
¾              Numa coisa vocês tem razão, eu tenho mais de vinte anos sim... quase duzentos e cinqüenta anos. Eu não conheço nenhuma amiga, ou amigo meu que tenha vivido tanto. E realmente vivi muitas aventuras interessantes. Passei por muitos apuros e perigos também. Já adoeci. E não conheço meus parentes, filhos ou netos. Por isto digo que vocês têm muita sorte de viverem juntos.   
¾              Mais de duzentos e cinqüenta anos? Não acredito, incrível...
¾              É mesmo, você deve ter visto o começo do mundo.
Disseram os jabotizinhos siameses em sua inocência de crianças.

¾              Eu não disse mais, eu disse quase. Mas, não, eu não vi o inicio do mundo, o mundo é muito velho. Milhões de anos. Tempo que não da para explicar para vocês, ainda não. Quando, nos tempos mais antigos, nossos antepassados eram muito mais grandes que nós. Hoje somos pequeninos perto deles.
¾              Sério. Eles eram maiores que a senhora? A senhora é muito grande.
¾              Sim, eles eram. Não sei dizer ao certo seu tamanho. Mas eram enormes e tinham uma calda que tinha um caroço pesado que balançava e que servia para se defenderem dos agressores.
¾              Se eu tivesse um desses tinha quebrado a perna do feioso que zombou da gente.
¾              Não mesmo.
Disse a cabeça da esquerda que já tinha percebido que não se deve usar de violência para se defender mas de inteligência e argumentos. Ela seria um grande líder de sua espécie.
¾              Isto mesmo. Parabéns. A inteligência sempre prevalece sobre a força bruta. Se pagarmos ignorância com brutalidade nunca chegaremos a lugar algum.
¾              Obrigado. A propósito. Qual é seu nome? O meu é Kanhoto e o do meu irmão é Destro.
¾              A, sim, desculpe-me a indelicadeza de não me apresentar. Sou a Jabota Carlota. E fiquei muito feliz em lhes ter conhecido.
¾              Nós é que ficamos felizes. A senhora trouxe alivio a nossas dores e tristezas. A partir de agora se alguém nos ofender, já sabemos que é uma pessoa triste, ignorante e preconceituosa. E que mesmo que não possamos viver separados seremos sempre felizes um na companhia do outro. Um sempre vai ajudar o outro.
Disse destro mostrando que mesmo sendo o mais impulsivo, também tinha aprendido a lição e que tirara proveito desta.
¾              É verdade. Eu e meu irmão aprendemos que ser diferente é normal. Que se Deus quisesse que fossemos todos iguais ele assim o teria feito. Mas coube a Ele mostrar criatividade e inteligência ao fazer tantos seres e todos diferentes um do outro, mesmo os da mesma espécie, imagine então entre as diversas espécies, Deus é mesmo muito criativo e sábio.
¾              Olha. Kanhoto. Vocês me surpreenderam. Tiraram tudo isto deste pequeno dialogo quer tivemos? E nós nem sequer falamos sobre estes assuntos?
¾              Falamos sim, estavam nas entre linhas das palavras da senhora. Nós sempre observamos e ouvimos o que se diz sem palavras.
¾              Não entendi? Dizer sem palavras? Entrelinhas? Me expliquem...
¾              Kkkkkk. Olha as crianças ensinando os adultos rsrsrrsrs.
Riu Destro mas com respeito e Kanhoto explicou.
¾              É assim. Primeiro. A senhora se preocupou conosco e parou para ajudar mesmo sem nos conhecer, nisto aprendemos que devemos olhar e respeitar a dor dos nossos semelhantes mesmo que não sejam nossos amigos ou parentes.
¾              Segundo. Criticou a ação de zombaria do cágado. E nisto aprendemos que devemos respeitar as diferenças entre os seres. E mesmo os defeitos dos outros. Se forem morais, e pudermos ajudar a consertar, tudo bem, se não, devemos respeitar suas opiniões. Se forem físicos, os defeitos, só podemos mencioná-los se pudermos fazer algo por eles. Viu? Quanto aprendemos com a senhora. Ou mesmo com nossa conversa?
¾               Fiquei surpresa mesmo. Rsrsrs.
Destro também quis mostrar que havia aprendido algo e completou o irmão.
¾               Terceiro. Aprendi que com violência não se chega a lugar algum. Vou sempre analisar mais as situações antes de tomar uma decisão, prometo. E mais. De agora em diante, sempre que ver alguém em dificuldades vou lá ver se posso fazer algo por ele. Assim granjearei muito mais amigos. Ter amigos é bom.
¾              Parabéns crianças, fiquei muito feliz com tudo isto. E principalmente aprendi uma nova lição.
¾              A senhora? Qual?
Disseram a uma voz os irmãos.
¾              Que para aprender não tem idade. E nós temos de respeitar o intelecto dos mais velhos e também o das crianças e aprender com elas também, afinal ninguém é dono da verdade.
¾              Que legal, dona Carlota,a senhora é a jaboti mais bacana que nós já conhecemos, espero conhecer vários iguais a senhora.
¾              A, vão conhecer sim, amiguinhos. Normalmente os jabotis são muito amigáveis. Agora, conheço perto daqui um arbusto que da umas frutinhas deliciosas, e justamente estamos na época delas estarem maduras que tal se formos lá fazer um lanchinho?
¾              Eeeeeeeeeeeeeeeeeee, legal, vamos sim.,. oba.
E assim os três novos amigos saíram juntos para ir á “lanchonete” da mata. Três pessoas dois rastros de pegadas. A matemática da natureza.
Jabota Carlota, nossa amiga agora tinha mais dois amigos especiais.
    
           







       A PRISÃO!

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